O que desespera não é a inexistência de um porto seguro, do local tributável e legalizado, da certeza do dia 30. Tampouco é a condição precária, o vínculo leve, a falta de móveis, e de cachorros. Essas faltas e dificuldades são índices e entendê-los como algo além disso seria uma grosseria ou uma ilusão.
(A possibilidade de sucumbir a elas - outro nome da felicidade -, é qualquer coisa que me foi tirada.)
O que tira o sono todos os dias é o excesso de vontades que se materializa como seu exato oposto: a incapacidade de colocar a minha vontade como gerente da minha própria vida. é querer tanto e tantas coisas, fazer tudo por elas e ao mesmo tempo não extrair daí nenhuma satisfação a não ser ter tudo e não ter nada.
E isso não chega a satisfazer. sem dúvida é um gozo, mas também é uma deriva, um desterro.
Sem acender a luz, leio Pascal, que me diz, com a voz trêmula, que a miséria faz par com a grandeza e se projetam no claro-escuro do mundo, lá mesmo onde a vontade não tem e nunca teve nenhum controle.
sábado, 22 de agosto de 2015
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
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