quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A vida afetiva de quem não acredita na dialética renúncia-redenção gira ao redor de pretextos sem pathos.
- você não consegue deixar de ser uma abstração vulgar. Como se pudesse ser somente escrita.  
- não é exatamente assim.  Dedico-me com radicalidade ao formalismo místico e a uma expressão tão plena quanto vazia daquilo que eu deveria ser. não há posição nem dialética, apenas uma ressonância que não impregna nada. Um zumbido, talvez. Ilimitado mas fora de qualquer razão.
- acontecem coisas que a gente não explica. um tombo, um beijo, o último aperto de mãos. O que importa é  algo que não acontece, e mais importante ainda é aquilo que quase aconteceu. Mas isso  justifica mesmo uma vida em fuga?

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A composição de coisas que quero a meu redor me ocupa tanto ou mais que as pessoas ao meu redor.
Natureza, morta.

Não me orgulho disso, tampouco sofro.

O motivo permanece fragmentário. Obscuro. Apenas o exame crítico e minucioso aplaca, temporariamente, a dor de não saber e ter que continuar.

Não era, afinal, tão difícil se entreter com cortinas, luminárias e pendentes. Não era em absoluto fútil escolher um sofá. Cada cadeira, almofada e panela, índices de uma decisão arbitrária: não escorrer. Forma luminosa de signos decisivos.


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Lendo S. Weil compreendi que devemos escrever sobre as necessidades humanas. como não sou cristã como ela, as necessidades humanas são, para mim, as minhas necessidades. Digo isso porque já faz algum tempo que preciso escrever sobre a necessidade de céu e de sol. é preciso ver o céu e sentir a luz do sol tanto quanto é preciso comer um pouco todos os dias, beber um pouco de água e algum álcool. Experimentei viver sem isso por alguns meses e tive a certeza absoluta que aquela situação é insustentável, do ponto de vista de se manter vivo, a médio prazo. Não sei se isso se passa com todas as pessoas de todos os tempos. Provavelmente não.
Talvez isso se deva a tenra infância, vivida entre a roça grande e a casa dos avós, mais no interior. Talvez se deva a algo mais profundo, uma semelhança maior com certos tipos de vegetais, esses que precisam de luz.
Talvez, ainda talvez, seja um traço absolutamente não-ocidental, uma espécie de tropicalidade da alma e do corpo.

são realmente muitas hipóteses a serem avaliadas.  

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

a maior parte é sempre a parte que menos importa. isso é quase sempre verdade. é verdade também que quase tudo nos é obscuro, e que a escuridão brilha para quem tem coragem de tentar ver. talvez fosse preciso repensar o entre-lugar para entender que o entre é mais um estar na curva, um ver de soslaio. dai a sensação de estar em trânsito, a caminho, porvir. Não saber ainda. Não é confortável, não é belo, muito menos sereno. querer estar aí, nesse lugar, ocupá-lo, exige uma força resiliente, não ativa, desesperada e calma. Nem sempre é possível.