quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

o que nos reúne a não ser a tragédia de existir? Mais importante: a reunião mesmo é a desgraça:  famílias, comunidades, multidões. Estamos todos juntos, ligados. Resta estar ciente dessa verdade enterrada ancestralmente no coração do que seja lá ser um humano e, fingindo, fugir para as Montanhas.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Ontem.
futuro anterior em ação.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

o que é sentir saudades daquilo que se está feliz em ter abandonado?

Como é difícil escrever. Mesmo sobre as coisas boas. Porque tudo deixa um rastro mesmo o não agradável. A escrita é cética. Ela nos faz duvidar mesmo quando tudo aponta para a certeza de que as cosias novas são melhores que aquelas deixadas para trás; Deve ter sido mais simples num tempo em que a consciência não era tão questionada. Apenas a certeza do tempo servia. Mas para um ambiente de tão grande niilismo isso de nada serve. Há certezas. Contudo, mesmo elas se desvanecem ao som da memória, mesmo quando ela é composta de imagens duvidosas. Difícil explicar.
Estou bem,
Tenho certeza de que esse é o melhor caminho e de que não abandonei nada essencial.
E essa hesitação?

Talvez

da certeza de que ainda há algo importante a ser dito. dessa incerteza. da certeza da inutilidade desse caminho e ao mesmo tempo.....

eu preciso estar aqui,

saber me deixa tranquila. isso não é felicidade.

é um caminho.,

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O eu de quem falo é alguém de quem me recordo, algumas vezes apenas vagamente. Os amigos-amantes trazem consigo livros eróticos, bebidas e cigarros. E tudo é, aparentemente, desviado e perverso. A correção e correnteza que pautam esse eu tantas vezes distante é subterrânea. Se esconde, estratégia mística, evita tornar-se um exemplo, odeia a pedagogia. Em público, louva o acaso e todas as desgraças, para manter a coragem, a força e o pouco de paz que conseguiu carregar, a salvo. Não se trata, todavia, de um duplo. A antinomia aqui é marcada unicamente por aquilo que deu pra fazer, por isso, a despeito da amoralidade, é rigoroso, necessário e verdadeiro.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A vida afetiva de quem não acredita na dialética renúncia-redenção gira ao redor de pretextos sem pathos.
- você não consegue deixar de ser uma abstração vulgar. Como se pudesse ser somente escrita.  
- não é exatamente assim.  Dedico-me com radicalidade ao formalismo místico e a uma expressão tão plena quanto vazia daquilo que eu deveria ser. não há posição nem dialética, apenas uma ressonância que não impregna nada. Um zumbido, talvez. Ilimitado mas fora de qualquer razão.
- acontecem coisas que a gente não explica. um tombo, um beijo, o último aperto de mãos. O que importa é  algo que não acontece, e mais importante ainda é aquilo que quase aconteceu. Mas isso  justifica mesmo uma vida em fuga?

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A composição de coisas que quero a meu redor me ocupa tanto ou mais que as pessoas ao meu redor.
Natureza, morta.

Não me orgulho disso, tampouco sofro.

O motivo permanece fragmentário. Obscuro. Apenas o exame crítico e minucioso aplaca, temporariamente, a dor de não saber e ter que continuar.

Não era, afinal, tão difícil se entreter com cortinas, luminárias e pendentes. Não era em absoluto fútil escolher um sofá. Cada cadeira, almofada e panela, índices de uma decisão arbitrária: não escorrer. Forma luminosa de signos decisivos.


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Lendo S. Weil compreendi que devemos escrever sobre as necessidades humanas. como não sou cristã como ela, as necessidades humanas são, para mim, as minhas necessidades. Digo isso porque já faz algum tempo que preciso escrever sobre a necessidade de céu e de sol. é preciso ver o céu e sentir a luz do sol tanto quanto é preciso comer um pouco todos os dias, beber um pouco de água e algum álcool. Experimentei viver sem isso por alguns meses e tive a certeza absoluta que aquela situação é insustentável, do ponto de vista de se manter vivo, a médio prazo. Não sei se isso se passa com todas as pessoas de todos os tempos. Provavelmente não.
Talvez isso se deva a tenra infância, vivida entre a roça grande e a casa dos avós, mais no interior. Talvez se deva a algo mais profundo, uma semelhança maior com certos tipos de vegetais, esses que precisam de luz.
Talvez, ainda talvez, seja um traço absolutamente não-ocidental, uma espécie de tropicalidade da alma e do corpo.

são realmente muitas hipóteses a serem avaliadas.  

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

a maior parte é sempre a parte que menos importa. isso é quase sempre verdade. é verdade também que quase tudo nos é obscuro, e que a escuridão brilha para quem tem coragem de tentar ver. talvez fosse preciso repensar o entre-lugar para entender que o entre é mais um estar na curva, um ver de soslaio. dai a sensação de estar em trânsito, a caminho, porvir. Não saber ainda. Não é confortável, não é belo, muito menos sereno. querer estar aí, nesse lugar, ocupá-lo, exige uma força resiliente, não ativa, desesperada e calma. Nem sempre é possível.

domingo, 25 de setembro de 2016

sem maiores atributos ou qualidades, ou pelo menos sem as habilidades, riquezas e heranças certas para um tempo incerto, resta-lhe apreender, de uma maneira quase inesperada, o sentido da indigência e da contingência. O que vinha acompanhado de certa amoralidade e alguns recursos intelectuais que sabia serem raros, mas não especiais. Suficientes apenas para entender o valor do não-movimento, da espera: no olho do furacão não há vento.  

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Evidentemente, não tem nada certo. A não ser a ideia de que preciso ir, abandonar, deixar pra trás. Algo acabou e tem tempo. O que deveria ser, entretanto, não é ainda.
Será?

Mesmo assim, comprei um fogão. 4 bocas. Com Grill. Para o Croque Monsieur que farei ainda não sei para quem.

enquanto isso,
"seguir o esquema ( caderno). "

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

eu entendo que as coisas tenham sempre que dar quase certo. uma pessoa que transformou a tematização das próprias neuroses em profissão - e se vira professor de literatura pelo mais absoluto acaso -,  não pode querer outra coisa a não ser que tudo esteja sempre quase.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

manhãs sempre frias na cidade feia que se chama bela. alguns livros, muitos problemas banais. suspensão na trama existencial para que as coisas possam , por um mísero instante, fazer sentido. depois, logo, tudo voltará ao movimento a esmo e sem direção. 
O momento em que as coisas fazem sentido é, em si mesmo, uma densidade temporal de textura instigante, onde se misturam aquilo que esqueceremos e aquilo que está ainda a frente. Essa densidade assegura seu caráter de êxtase e de suspensão.  
- dialeticamente, portanto, veja bem, o nonsense... 


Voltam a dormir. 

sábado, 9 de julho de 2016

O que é, dentro de uma casa vazia, uma porta? Lá dentro apenas os gatos. Lá fora também está vazio. Palavras girando sem entendimento, mas igualmente sem força. Flutuam por hábito, assim como as ainda-lembranças, destinadas ao esquecimento ou a ressignificação. Há ainda um horizonte esperando virar futuro, amadurecer na podridão das coisas que não puderam ser, ou melhor, naquilo que elas foram, sem permissão.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

aperto sem nome, suave e persistente. Inexplicável.  Espalha-se concentricamente. Nada deixa de contaminar.  Encontra a primeira consciência e o primeiro universo, e a tudo corrói.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

frio. O que ecoa vive só, para dentro e para fora. concha, abismo.

domingo, 5 de junho de 2016

Não tem jogo, Não mais
ficar, ficando. 
Não era tanto. Era onda. Era bom. Era transitório. 
Agora apenas silêncio.
Mas ainda estou aqui. 
 / 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Ilha amorfa e intratável. Pesada, podre. Infecunda. Doída.
Boiando incomunicável em sua solidão, insuficiência e inutilidade.
Transformando-se em algo,
Eu mesmo.

domingo, 29 de maio de 2016

um atropelamento que não mata, só deixa um cansaço, uma ressaca. Uma dor e uma preguiça, mas também uma falta de entendimento porque, no fundo, não se explica.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Dificilmente volto ao que escrevo aqui, mas me reconforta saber das letras guardadas. Então escrevo sobre hoje, para não esquecer que cruzei a cidade, Flamengo- Gávea- Centro- Flamengo, debaixo de chuva, um dia bizarro, normal, entristecido. Tudo igual, e tudo diferente. Assim é o evento histórico, assim é um golpe de estado. Esse foi assim, pelo menos.

domingo, 1 de maio de 2016

raízes frágeis demais para se aprofundar: o Bambu não é feliz. Não que a profundidade pudesse salvá-lo de tal destino. Todo rumo à superfície já está traçado pelas finas e ramificadas entranhas que o sustentam. O vento molda seu caráter; faz aparecer sua única força: a resistência, essa força nascida da negação. O bambu é um refém do conflito, mas sem ele não pode existir. Ele se curva à tudo, jamais se impõe. Todavia, estará lá.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Naquele dia, como de costume, acordei às 5 e 30 da manhã. Mas não consegui levantar. Ainda tinha gosto das cervejas de três noites anteriores e ainda mais o cansaço das duas primeiras, em que a leve embriaguez somava-se a uma boa companhia. Tempo estranhos, ambíguos. Armados por uma instabilidade que ganha muitas faces. Projeta muitos horizontes, todos em névoa. Mas bem, naquele dia acordei com o gato em cima de mim, gosto de cerveja na boca, estomago azedo. Não fui correr. Voltei a dormir. A gente não sabe o que sentir, qualquer coisa pode acontecer, inclusive nada demais. Mas essa é uma impressão não correta. Algo aconteceu, só vai demorar para entender.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

todo estranhamento e inquietude pudessem ser resolvidos com uma banana, ou nozes. Um copo de leite. Um pouco de sol. Mas nada, a gente corre, a gente come, a gente tenta.

E tudo só descompasso e desconexão.

sábado, 9 de abril de 2016

Afogar não afoga. Chegar até chega,  mas sem viço, sem frescor. sem gosto, passadas.Mas não sei o que está estragado, a coisa ou a língua.

eu não consigo.

quinta-feira, 17 de março de 2016

tantas tramas, todas esgarçadas. tudo vai ser rápido, basta cair com dignidade.

Algumas ideias tem movimentos tristes.
 Mas a vida, essa é sempre pior.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

As águas que fecham o verão nunca deixaram de nos lavar do calor e cansaço dos três meses mais difíceis do ano - meses em que o vazio existencial se deixa substituir pelo suor que transborda, incessante. Mas, igualmente, e talvez como vingança, as águas fecham o verão apodrecidas por todo tipo de resultado esquizoide desse nosso tipo de habitar o mundo, chove e sobe o cheiro fétido da existência nessa cidade.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Centro vazio de um mundo. Sabe, no íntimo, que seu destino é preenche-lo com sua horrível verdade. Tudo se passa numa tarde quente abafada branca de verão. Tudo imóvel e por isso, ao mesmo tempo, nada passa.
Eles vivem na mesma casa, se amam. Mas jamais se encontraram.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

acorda com asas e rasteja, dorme com escamas e voa. a liberdade é um cativeiro.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

ser muitas coisas, mas nem todas. sem auge, apenas resto ou excesso. como vento, entre nós - sendo sem permanecer, forte na medida da resistência oferecida, flexível na medida de sua invisibilidade. Bem-ordenado de acordo com o próprio desatino.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Mantenho intacta toda minha
irradiação rumo ao nada. Compromisso inatual, quase cafona, esse de querer dedicar-se a si mesmo sem pretender que isso seja mais que cuidar de si. Heroína vulgar de mim mesma, no abismo torcendo para que ele se afaste por mais um dia. Não para sempre.
O abismo deve estar próximo o suficiente para nos jogarmos nele, caso seja preciso.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Rilke
sussurra qualquer coisa sobre o difícil.
Eu ouço qualquer coisa
sobre o medo, sobre a falta de sentido.
Sobre a falta de nome das coisas - que é também a falta de deus;
Teve o dia em que descobri  que me matar seria fácil mas só servia o difícil: morrer.
Mas a gente não morre. A gente não vai embora.
Nada acontece.
Ainda estou aqui.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Só que ninguém mais ouve isso,  preocupados que estão em fazer seus próprios ruídos, em calar o outro e a si mesmos. O silêncio, assim como o tempo, assusta essa maldita cidade afogada em seu bafo quente.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Todos os dias, por um aperto que vinha de dentro, o nada ganhava uma feição nova. Mesmo que tudo se revire como espera e perda. Não era ainda tempo. A vida é antes do tempo, não importa o que os fenomenólogos digam. Manhã quente, de um verão que não é possível descrever, vendo as pedras dessa cidade, ouvindo Beatles, tomando café, esse nada tomava a forma de uma espécie de intuição de que essa coisa toda pode ser que realmente valha a pena.