segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Não sou eu, não escrevo. Não limpo o chão em que piso, o banheiro que uso. Não lavo minhas roupas e não saio de casa para comprar minha comida.
Cozinho, por vaidade.
Por necessidade, para ganhar minhas migalhas,  fecho os olhos, o coração, travo meu pescoço e coluna, os músculos do trapézio, e abro livros que alimentam a ilusão de que pessoas possam existir. Elas não podem, ninguém pode existir: apenas esse barulho da escavadeira do outro lado da avenida que tem nome de uma santa e, claro, não salva nem a si mesma, pode existir.
E se eu continuo olhando para as coisas belas, é apenas por capricho. Sinto tanta repugnância e nojo dos que se dedicam a adiar o fim do mundo que, acho, devo mesmo ir para o inferno, de novo.